Em 23 de outubro, Alan Greenspan, ex-presidente do FED (Federal Reserve
System, dos Estados Unidos), em uma declaração inesperada, reconheceu
que os EUA estão no meio de "um tsunami creditício". Ele disse que "está
em choque e não pode acreditar" como os bancos e as empresas financeiras
não se vigiaram e controlaram a si próprias, que é com o que ele e
outros responsáveis de supervisão no governo americano contavam.
Durante o período no qual Greenspan liderou o Fed, acelerou-se nos
Estados Unidos a eliminação de regulações, e diminuiu a aplicação das
que ficaram de pé, enquanto nos mercados financeiros multiplicaram-se
novos "instrumentos" de especulação. (Fonte: Folha Online:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u459661.shtml).
Notadamente, a tardia adoção pelo FED do Segundo Acordo de Capital da
Basiléia (Basel II), em Julho de 2007 (definitiva, pois já havia um
acordo de adoção em 2006), também colaborou para esta falta de controle
do mercado financeiro americano. O cronograma de implantação do FED é
dos mais atrasado e dos mais “light” entre todos os mercados
financeiros. O Banco Central do Brasil, ao contrário, tem uma das
adoções mais realistas e restritivas, o que também colabora para um
preparo maior de nossas instituições bancárias, lembrando que este não é
o único fator, mas também colaboraram as outras regras de mercado,
estabelecidas pelo BACEN e CVM. Isso quer dizer que não teremos
quebradeira de bancos no Brasil? Infelizmente não, mas a tendência disso
acontecer é muito menor, independente das recentes medidas do governo.
E o que isso tem a ver com o mercado de TI? Bom, penso que todos nós já
sentimos na pele o que a falta de crédito faz com os mercados, e o
mercado de TI, por ser um mercado ligado a inovação, precisa de
investimentos massivos, muitas vezes vindos de operações de crédito.
Quantos datacenters foram implantados em nosso país sem financiamentos?
Quantas empresas fornecedoras de serviços de TI não adiantam seu
faturamento futuro com empréstimos para pagar seus funcionários? Sim,
Consultor de TI, aquele novo projeto para o qual você foi contratado
possivelmente pagará seus primeiros meses de salário com um adiantamento
bancário. E com a falta de crédito, qual a previsão? Que uma menor
parcela de empresários de TI terá condição de abraçar novos projetos, e
aquelas empresas que tem esta condição cobrarão mais caro para minimizar
seu risco, e o cliente diminuirá sua demanda, pois, de um lado, os
preços aumentaram, de outro, ele não tem aquele empréstimo para o seu
novo datacenter, ou seu novo serviço, e também uma filtragem maior de
novos projetos. Em outras palavras, desemprego, recessão. Mas depois
voltamos a este triste assunto.
Falamos, no início do artigo, sobre o Basiléia II, vamos traçar, agora,
uma pequena lista de ações e reações regulatórias: depois do crash da
bolsa de Nova Iorque e da recessão da década de 30 do século passado,
veio em 1934 a criação da SEC (considerada por muitos como o marco de
criação do conceito de Governança Corporativa), depois dos escândalos de
propina (“bribery”) pagos a agentes estrangeiros no meio da década de
70, veio o Foreign Corrupt Practices Act of 1977 (FCPA), depois dos
escândalos de 2000 e 2001, como Enron, Worldcomm e outros, veio a
Sarbanes&Oxley de 2002. O próprio BIS (Bank of International Settlements
– criador dos acordos da Basiléia) veio como uma reação a liquidação de
um banco alemão em 1974 em uma operação cambial. Aonde quero chegar?
Podemos esperar duas coisas: a aceleração dos Estados Unidos em
implantar o Basiléia II, e, finalmente, o BIS incluir no Basiléia II uma
regulamentação mais clara sobre como definir o capital do banco.
Comparando a lista de ações e reações regulatórias, podemos fazer uma
previsão de quando as coisas voltam ao normal? Penso que nem os mais
experientes economistas se arriscariam, muito menos eu, que não sou
especialista. Mas relembro ao leitor que o índice Dow-Jones só chegou
aos mesmos índices de antes do crash de 1929 (após uma breve recuperação
em 1930) em 1954! Claro que houve uma guerra mundial no meio... mas
também o crash de 1929 foi só o anúncio da Grande Recessão dos anos 30.
Será que o pior ainda está por vir?
Pois bem, então, quais as mensagens para o mercado de TI? Penso que a
primeira faz parte de nossa co-responsabilidade fiduciária, TI deve, uma
vez mais, apoiar a área financeira da empresa, para auxiliar o encontro
de soluções criativas e oportunidades de redução de custos, de
gerenciamento responsável dos recursos da companhia, tendo papel
fundamental na escolha dos investimentos que fazem sentido neste
momento. Um framework que eu poderia recomendar neste sentido, é o
ValIT, da ISACA, que visa ter uma governança sobre os investimentos da
empresa habilitados por TI.
Sob o ponto de vista de iniciativas, além do ValIT, penso que devemos,
além de filtrar melhor os “business cases”, colocar maior prioridade
sobre os que criam diferenciação, economia e que tenham horizonte de
retorno mais curto e que tenham custo mais baixo, ou uma excelente
relação custo-benefício.
Sob o ponto de vista de custos operacionais, devemos fazer uma revisão
de oportunidades junto aos nossos fornecedores, verificar oportunidades
de mercado, ter uma visão “out-of-the-box”. Um modelo que pode ajudar é
o eSCM, da Carnegie-Mellon University, e alguns processos do Cobit,
notadamente o DS2, o AI2, AI3 e AI5, o PO5, e o DS6.
Sob o ponto de vista do profissional de TI, lembro que na crise podem
estar as melhores oportunidades. A questão é como buscar estas
oportunidades. Penso que quem está bem colocado, deve buscar se
atualizar e se diferenciar, mas não espere muita ajuda de seu
empregador, ele vai estar preocupado com outras coisas. Invista em você,
em seu network, busque conhecimento, mas, assim como as empresas,
escolha seus investimentos, repetindo, “colocar maior prioridade sobre
os que criam diferenciação, economia e que tenham horizonte de retorno
mais curto e que tenham custo mais baixo, ou uma excelente relação
custo-benefício”. Assim, você aumenta sua chance de encontrar uma
recolocação em caso de necessidade.
Para os não-alocados, você está com o dinheiro curto, será que dá prá
investir em si mesmo? Se der, valem os mesmos conselhos, se não, busque
seu network. E faça um “catálogo de serviços” pessoal, o que você sabe
fazer bem e que as empresas precisam, de repente esta lista e seu
networking ajudam a conseguir um “freela”.
Para o empresário de TI, fuja dos bancos o quanto for possível. De
preferência, procure seu gerente só se aparecer “aquele” projeto. E
reveja seus custos. E a eficiência de seus processos. Você já fez isso
tantas vezes para seus clientes, será que não pode aproveitar este
“expertise”? E vale, de novo, a recomendação dada sobre iniciativas e
sobre custos operacionais.
E vamos fazer a diferença!
Autor: Paulo César Rodrigues - CGEIT®, CISA®, CISM®
terça-feira, 11 de novembro de 2008
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