que tenho dúvidas sobre o quê e como opinar sobre o assunto. Por um lado o desrespeito do direito a vida, por outro as tradições indígenas e mais além a pressão internacional sobre o nosso país em relação a Amazônia. O tópico abaixo não representa minha opinião, exclusive o último parágrafo, senão traduções do referido jornal e de outros (aqui, aqui e aqui e da página oficial de Hakani.)
Ainda em pleno século XXI, na ribeira do Amazonas, dezenas de crianças e bebês são enterrados vivos por várias tribos indígenas. 200 clãs praticam o infanticídio como sacrifício em prol da sobrevivência do grupo. Esta é a história de Hakani, uma menina que nasceu pela segunda vez quando foi exumada viva. Salva deste anacronismo irracional vive hoje o sonho da sobrevivência longe da família que nunca a quis.
O surpreendente desta antiga prática é o paradoxal relativismo cultural aplicados pelos coletivos pró-indígenas e as autoridades brasileiras durante décadas; beirando o genocídio em virtude da defesa e conservação de acervos e tradições indígenas, e pisoteando os mais elementares direitos individuais.
O debate gerado foi sempre pobre pela falta intencional de dados oficiais. Felizmente, grande variedade de reputados antropólogos e cientistas independentes têm juntado suficiente informação para executar uma denúncia mediática internacional. Hakani é a maior de todas as evidências.
Hoje em dia, aproximadamente 4% dos decessos anuais dos Waoranis, uma tribo de guerreiros em perigo de extinção, são devidos ao infanticídio mais cruel. Não há doenças congênitas escusáveis, simplesmente quando a criança fica órfã por diferentes causas é enterrada viva numa sorte de cerimônia ritual enquanto os homens escutam os gemidos que emergem da terra.
Atenção: O seguinte vídeo é um extrato do documentário "Hakani, Enterrada viva. Uma história de sobrevivência". Sua visualização pode ser desagradável a pessoas sensíveis.
Hakani significa sorriso. Seu nome faz justiça a uma menina marcada desde seu nascimento pela desgraça e que sempre respondeu a ela com alegria. Pertencia à tribo dos Suruwaha, uma etnia em perigo de extinção da Amazônia ocidental composta por umas 120 pessoas e cujos contatos com o mundo exterior foram tão escassos como devastadores.
No século passado um grupo de forasteiros assassinaram à maior parte dos pajés da tribo acusando-os de bruxaria. Todos menos um. Longe de defender-se, o último pajé acusou o devastador encontro pregando, enquanto destilava um potente veneno, que a falta de guias espirituais só podia ser combatida com o suicídio. A partir desse momento o povo Suruwaha decidiu que o suicídio era a melhor forma de tratar qualquer movimento de ira ou dor.
Durante os dois primeiros anos de vida de Hakani tudo parecia normal em sua família. A alegria da menina sobressaia além de suas carências até que, com 2 anos, seus pais detectaram a impossibilidade de Hakani para andar e falar. Imediatamente a pressão tribal obrigava seus pais a executá-la para preservar a sobrevivência de um grupo incapaz de resistir a propagação da doença da menina.
Os pais de Hakani, aterrorizados, suicidaram-se por conselho do pajé, deixando Hakani sozinha com seus quatro irmãos. Foi então quando a pressão do infanticídio recaiu no irmão maior de Hakani.
Seu irmão Bibi levou-a ao exterior de sua oca e enterrou a menina viva sob o olhar atento dos mais idosos. Normalmente os gritos abafados pela camada de areia duravam apenas um par de horas mas os de Hakani chegaram até o anoitecer quando seu avô, torturado por seu pranto, foi célere desenterrar a menina. Suas intenções estavam longes da piedade já que levou seu arco e flechas disposto a acabar com a vida de sua neta. O avô disparou e errou, ferindo à menina no ombro. Invadido pela culpa, o avô tomou o veneno que usava para suas flechas liberando com isso sua atormentada consciência.
A partir desse momento a vida de Hakani tornou-se um pesadelo. Perambulando como um pária junto a seus irmãos defenestrados pela tribo, pelo inferno verde do Amazonas. Comendo folhas e insetos, saciando sua sede com água da chuva e sofrendo o acosso físico e sexual de seus próprios irmãos.
Com o tempo mudou o sorriso por um grito surdo de espanto e socorro. Três anos depois, quando Hakani estava com 5 anos seu irmão Bibi entregou a um casal de missionários da YWAM (Márcia e Edson Suzuki). Hakani pesava então 7 quilos e tinha não mais que 69 cm, carecia de expressões faciais e de emoções e chorava, presa ao pânico, quando alguém lhe tocasse um dedo.
O casal tomou conta da menina até que puderam levá-la a um hospital. Aos 6 meses já tinha dobrado de peso e recuperado o eterno sorriso que nunca mais abandonaria. Hoje, já com 12 anos e recuperada, vive placidamente com o casal Suzuki. O pesadelo terminou.
No princípio deste ano o governo brasileiro iniciou a retificação ao problema pressionado por uma ampla comunidade de ativistas. O congresso aprovou em junho a Lei de Muwaji (nome de uma mulher que se negou a enterrar seu bebê vivo). Um decreto que reconhece os povos indígenas como cidadãos do mundo e merecedores dos direitos humanos fundamentais. O problema agora é a indulgência na aplicação desta lei. É difícil entrar num acordo na maneira de evitar o infanticídio sem melindrar nem perturbar os delicados ecossistemas e tradições indígenas. O debate está servido.
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